02 novembro, 2012

Resenha FullMetal Alchemist Brotherhood



Quem nunca ouviu falar de Fullmetal Alchemist, o shonen que conquistou milhares de fãs com sua trama excepcional, diferenciando-se muito de outros do gênero pela profundidade de certos assuntos? Entretanto, por incrível por pareça, os fãs ficaram um tanto descontentes por conta da falta de fidelidade ao mangá. Mais incrivelmente ainda, eles tinham razão. A obra original ainda estava em andamento ao término do anime.

Portanto, não é de se surpreender que todos tenham ficado imensamente animados quando, no ano passado, surgiu Fullmetal Alchemist Brotherhood: uma nova adaptação com a proposta de ser totalmente fiel ao mangá. Novamente produzido pelo estúdio Bones, com auxílio da Aniplex e Square Enix, Broterhood veio para renovar tudo o que sabíamos sobre Fullmetal Alchemist.

Mas será que os fãs realmente queriam essa renovação?

Deixe-me ser mais claro: o anime Fullmetal Alchemist é uma experiência única, particular. O mangá serve como uma forte fonte de inspiração até determinado ponto, mas a partir daí o show se reinventa e determina suas próprias regras. Apesar de a obra original de Arakawa Hiromu possuir de fato alguns aspectos obscuros, estes raramente são explorados com a devida profundidade.

Então, já começo afirmando que uma coisa não exclui a outra. Se já tiver assistido à primeira adaptação, nada te impede de apreciar a segunda, mas espere abordagens bem diferentes do mesmo material. Claro que o pensamento contrário é igualmente válido. Se for o caso de você ter visto o primeiro FMA, recomendo paciência até mais ou menos o episódio 15, pois a partir daí há muita coisa nova. Nada de Dante, mundos alternativos etc.

Dificilmente preciso apresentar a premissa novamente, certo? Mas o farei mesmo assim. No mundo de FMA,  a alquimia é uma ciência muito poderosa e estudada, baseada no princípio da Troca Equivalente. Edward e Alphonse Elric são dois jovens estudantes de alquimia que veem-se tentados a realizar o ato proibido conhecido como transmutação humana, a fim de ressuscitar a mãe dos garotos.
Os irmãos Elric.

Mas, como esperado, a tentativa falha e eles são obrigados a pagar um preço pela transgressão: Alphonse, o mais novo, perde seu corpo, enquanto Edward perde sua perna. Edward ainda vai além e sacrifica seu braço para fixar a alma do irmão em uma armadura, novamente infringindo as regras. Ao fazê-lo, ambos têm um fatídico encontro com "a verdade", o que viria a determinar seus destinos no futuro.

Anos depois, Edward, tendo seus membros substituídos por automails (braços e pernas mecânicos) torna-se um alquimista federal e viaja junto ao seu irmão para descobrir um modo de recuperar seus corpos. Um item em especial chama a atenção dos dois: a Pedra Filosofal, um material lendário capaz de amplificar o poder da alquimia.

E vou parar por aqui, com medo de estragar as surpresas. Algo muito interessante em Brotherhood é a progressiva construção de um grande cenário, como se a autora original já tivesse em mente todo o desenrolar da trama. Por exemplo, verdade seja dita, o primeiro episódio é filler, original do anime (provavelmente para diferenciar-se desde o início da primeira adaptação), mas conforme as coisas vão acontecendo o espectador de repente lembra-se dos detalhes e percebe: "Ah... agora entendi".

Se você acompanha One Piece, deve conhecer bem esse tipo de momento. Adicionalmente, Brotherhood gosta de brincar com cliffhangers e reviravoltas, mas sem exagerar. Não raramente você vê uma cena ao término do episódio e vai logo no Twitter xingar, tamanha a angústia, porém logo no início do próximo suas suspeitas são destruídas sem esforço.

Apesar de, como dito anteriormente, a trama de Brotherhood parecer um tanto superficial aos fãs do anime anterior, ela com certeza não desaponta os leitores deshonen mais maduros. Há uma ótima intercalação entre humor, drama, ação e comédia, mesmo nas cenas mais tensas ou leves. Além disso, algo que ficou defasado — o mundo militar — consegue mesclar-se muito bem à estória principal, sobre alquimia.
Às vezes eu queria que esses caras fossem os protagonistas.

De fato, sinto que não foram só os intrigantes complôs militares do mangá que foram esquecidos, mas a grande maioria dos personagens militares também. Por conta disso, Brotherhood dispõe de um enorme arsenal de personagens carismáticos e vilões extremamente difíceis de serem derrotados. Não por serem monstros com habilidades inimagináveis, porém humanos com poder e influência.

Claro, o anime não dispensa o foco nos irmãos Elric e sua busca pela Pedra Filosofal, mas "nunca antes na história" da adaptação original os coadjuvantes tiveram um papel tão importante. São muitas as ocasiões nas quais personagens de suporte roubam a cena, seja em momentos de comédia ou ação. Em particular, destaque à irmã do major Armstrong, Olivier, e o candidato a imperador de Xing, Ling Yao, ambos inexistentes na primeira adaptação.

Quanto aos aspectos técnicos, Brotherhood não faz feio: ótimos e experientes dubladores, uma animação fluida e boas músicas de fundo. Tudo bem, a qualidade de animação não é exatamente constante, e as músicas de abertura/encerramento não são tão empolgantes, mas detalhes do tipo não tiram os méritos da obra como um todo.

A quem recomendo FMA Brotherhood? Basicamente todos. Se você viu e gostou do primeiro, viu e não gostou, não viu ou nem sabe o que é Fullmetal Alchemist ou anime/mangá... garanto que encontrará em Brotherhood um ótimo meio de passar o tempo. Com uma narrativa sólida, bons personagens, boa qualidade técnica e fluidas sequências de ação, trata-se de um adequado ponto de partida aos leigos e uma memorável experiência aos fãs de anime.